Quando saio para o trabalho, a lua ainda está acordada.
As ruas que percorro, de um bairro distante da grande metrópole, estão adormecidas, começando a despertar com as vidas que por ela caminham.
As ruas que percorro, de um bairro distante da grande metrópole, estão adormecidas, começando a despertar com as vidas que por ela caminham.
Vidas escondidas dentro de corpos de homens e mulheres tentando passarem despercebidas umas das outras, nem se dando ao trabalho de esconderem o medo que lhe invadem a alma a cada amanhecer.
O perigo está em todos os lugares: na esquina logo mais à frente, no olhar de alguém que nos olha de repente, até mesmo em um sorriso que alguém atrevido ousou nos oferecer.
Um sorriso no rosto de alguém nunca visto, em nossa direção, é muito estranho.
“Temos que ficar alertas"!
Acomodo-me em algum veículo que me levara a algum lugar, precariamente.
Mais vidas escondidas desta vez mais próximas.
Enroscamos, tocamos, sentimos, apenas nos corpos destas inúmeras vidas e muitas vezes a impaciência e o desespero nos invade na ânsia de nos livrarmos destes toques e olhares ansiosos, amedrontados e desconfiados.
Quando enfim chego ao meu destino, em uma grande avenida, de uma grande cidade, me deparo com outras vidas caminhando apressadamente sem destino.
As vidas estão mais escondidas, porque elas se dão ao trabalho de esconderem o seu medo atrás de uma máscara que envolve todo o seu corpo.
Uma máscara de distância, ironia, indiferença.
Agora estamos na cidade, o sol nos ilumina e qualquer deslize ficaremos vulneráveis e alguém, alguma das outras vidas escondidas, quem sabe, decifrando o nosso olhar, pode nos descobrir dentro deste corpo e desvendar os nossos segredos.
“Temos que ficar alertas"!
O dia passa por nós iluminando a alegria fingida.
É hora de voltarmos ao nosso esconderijo, digo, nosso lar.
É noite e a lua nos cumprimenta. Não retribuímos porque nunca olhamos para o céu.
“Temos que ficar alertas"!
À noite o perigo ronda a nossa volta.
Mais tarde, muito bem protegida, depois de ouvir os inúmeros acontecimentos que confirmam a razão do nosso incansável disfarce diário, narrados por uma voz tensa e tediosa, fico só, diante do espelho e não me vejo.
Onde está a vida que se esconde atrás de um rascunho nas ruas escuras do meu bairro e na pintura perfeita sob as luzes da cidade?
Não sei. Acho que esta cada vez mais encolhida de medo da desconhecida alegria de viver.