Dias quentes aquecidos por nossos corpos. Juntos nos uníamos sob aconchegante manta e assistíamos a roda de ilusões passada por outros atores, trazendo-nos diversão e momentos de meditação. Éramos felizes no nosso modo.
Riamos, brincávamos e juntos brindávamos à vida, como mais uma família completando o espaço de nossa escola na terra.
Às vezes meio impaciente o nosso pequeno, escorregava por debaixo das cobertas para brincar com seus carrinhos ou outros dos tantos brinquedos que nós o presenteava com amor e carinho nos dias festivos querendo captar, nem que fosse apenas por uns poucos momentos, o brilho luminoso no olhar e o sorriso radiante.
Somente isto já nos dava todas as razões para a nossa existência. Quantas coisas boas, momentos inesquecíveis que guardados estão dentro de todos nós, eu sei.
As brincadeiras de circo onde colocava sobre meus joelhos meu filhinho, imitando trapézio. Ou quando sentávamos no chão e com uma infinidade de jogos, disputando, brincando e muitas vezes, acabando tudo com cócegas e risadas.
Das reuniões e festas, que juntos recebíamos amigos e familiares, para criarmos momentos de alegria e aconchego.
Mas parece que as coisas que mais apreciamos, acreditamos acabar um dia.
O distanciamento e a indiferença vão tomando conta de cada membro da família e por um motivo ou outro, rumos diferentes vão sendo seguidos.
Os mais velhos às vezes ficam perdidos, e sentem-se afastados ou afastam-se sem perceber.
Os mais novos, às vezes, acreditam que se acharam e felizes que se encontram em suas escolhas, procuram esquecer-se de suas raízes, as quais foram as bases para o que hoje se tornaram.
O afastamento acontece. Uma dor escondida e dolorida às vezes nos dá o ar de sua companhia. E então nos perguntamos:
"Porque será que não podemos crescer juntos? Porque será que insistimos em abandonar aqueles que tanto nos amaram, para em busca de novos amores nos aventurarmos?"
Como devem ser pequenos nossos corações que não cabe amor suficiente para todos.
Como fazer este recipiente aumentar para compor mais alimentos, para tantos quantos amores nutrirmos em nossa vida?
Porque apenas um doce olhar, um afago demorado, alguns minutos de prosa ou de silencio juntos, um passeio de mãos dadas, beijos quentes e até molhados, pode ser tão difícil para alguns doarem e tão importantes para outros receberem?
Porque o tempo para alguns, é dedicado tão arduamente para muitos à distância e renegado para poucos que tão perto de nós permanece?
Quem sabe numa outra oportunidade venhamos a trocar de lugares, para que assim, enfim, com a nossa própria experiência na pele de ambos, possamos aprender a doar e receber em igual quantidade e assim tornar nossos corações, de infinito tamanho, não mais para abrigar o egoísmo, a indiferença e o esquecimento dos seres amados, mas para transbordar somente de alegria, afagos e muito amor para todos os que de nossa jornada terrestre fizerem parte.
Sem exceção.
Sem diferença.
Sem esquecimento.
Libertando sempre o ser amado, mas doando-nos infinitamente nos momentos que a vida nos unir.